quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A COBRA E A PERERECA

O sr. Alberto Batista Custódio, meu pai, natural de Promissão, morou em Rinópolis lá pelos anos de 1948, depois de ajudar a fundar a cidade de Osvaldo Cruz, onde eu nasceria em 1955, Eu ainda não tinha nascido, mas a minha mãe me conta que moravam num lugar chamado Sítio do Baracati, que ficava por ali onde está o Jardim São Matheus, o Ferro Velho do Careca,,,na beira daquele "corgo", como ela me disse quando esteve em Rinópolis em minha casa onde morava com a Helena. Mas o meu pai, por esta época, ou por todas as épocas, gostava de tomar uma cachaça e de pescar. Não tinha um dia que ele não levava mistura para casa.....lambaris, bagres, cascudos e até um peixe parecido com cobra que chamávamos de "cobrinha", mas depois ficamos sabendo que se chamava "Pirambóia". Mas como dizia, meu pai gostava muito de pescar. Depois de seu dia de trabalho na serraria ou no cafezal, ia para casa, tomava um banho de bacia e ia para o rio. Dava umas cavucadas de machadão e achava algumas minhocas para fisgar os peixes. Ocorreu que um dia meu pai chegou mais tarde, talvez tenha ficado mais tempo lá no empório da rua São Luiz, e não tinha minhoca, a ísca. Mas foi pescar assim mesmo. Não tinha ísca, mas tinha a garrafa de pinga Tatuzinho, que era mais importante do que a vara de pescar....e também espantava os pernilongos. E aí naquele trilho estreito que levava ao rio, o sr. Alberto percebeu que estava sem ísca para pegar os peixinhos que eu, o Toninho e dona Cândida estávamos esperando para a janta. A gente não aguentava mais comer ovo frito, batido, cozido, ou aquela linguiça cumprida que só depois de velho fiquei sabendo que se chama "cabo de reio". Mas meu pai era um homem abençoado. No caminho do rio se deparou com uma cobra com um sapinho, tipo perereca, na boca, já quase engolindo, Acostumado a derrubar matas e amansar burros bravos, não tinha medo de cobras, só de "mandruvá". Esperto e sagaz, seu Alberto fumou um Mistura Fina e pensou: esta perereca na boca da cobra pode servir de isca para eu pegar os peixinhos que o Moacyr, o Toninho e a Cândia, era assim que ele chamava minha mãe dona Cândida. Teve a ideia....coloco um gole de pinga na boca da cobra, ela solta a perereca e eu vou pescar. Dito e feito: deu um gole de Tatuzinho para a cobra, pegou o sapinho e foi para a beira do rio. Só que naquela noite ele pescou até de madrugada. A cobra batia nas costas dele sempre com uma perereca na boca, a troco de mais um gole de Tatuzinho. E foi assim que meu pai não precisou mais levar minhoca como isca. A cobra, já então sua amiga, o esperava na entrada do trilho com os sapinhos, que trocava por uma golada de cachaça. Depois meu pai mudou para Salmourão....e, em uma noite chuvosa, na beira do Rio Feio, lá estava a mesma cobra com a perereca na boca, só que desta vez a pinga era 3 Fazendas.