quarta-feira, 9 de maio de 2012

Cataratas de corrupção

O caso envolvendo o contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, atualmente investigado por uma CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), é um exemplo consolidado do que é a política brasileira: o poder, uma vez estabelecido nas câmaras, assembléias e palácios, após o ajuntamento de “nobres” senhores e senhoras, escolhidos por milhões de eleitores, cuja maioria vota por obrigação, passa a agir de acordo com interesses de grupos donos de fortunas amealhadas através de atividades ilegais e que, para se manter em atividade, distribui vultosos “agrados” aos pedintes de paletó e gravata. As ações bandidas que envolvem vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores, ministros, secretários e milhares de vagabundos chamados pomposamente de assessores parlamentares, não podem ser generalizadas por abrangência à todos os políticos, mas está cada vez mais claro que a honestidade é exceção que escapa dos chiqueiros cada vez mais povoados. O nome do contraventor da vez é emblemático: assim como as águas rolam ladeira abaixo e se espalham sobre os leitos dos rios, formando crateras imensas e se infiltram pelas margens causando paisagens danificadas no que chamam de beleza natural criada por Deus, as atividades e manobras políticas comandadas, solicitadas e atendidas por/ao sr. Carlinhos Cachoeira invadiram os assoalhos cobertos por carpetes nos palácios, entraram pelas janelas de comitês e diretórios partidários, invadiram escritórios de empresas públicas e privadas e inundaram até a redação de uma revista que tem por costume pautar a defesa da moralidade. Pior que esta cachoeira que caiu sobre as cabeças de centenas de senhores (e algumas senhoras também) revelando maus feitos de toda a ordem, é saber que, como na geografia brasileira em que existem milhares de quedas d’água que embelezam rios, ribeirões e riachos, na mesma proporção deságuam ações políticas ilícitas promovidas por corruptos e corruptores, de norte a sul, nos grandes, nos médios e pequenos municípios, nas câmaras municipais com nove ou 55 vereadores, nos parlamentos superiores instalados do Oiapoque ao Chuí, nos gabinetes executivos e até nos outrora ilibados tribunais. Um exemplo contundente de que a grande maioria dos políticos é classista, corporativista e conhecedora dos erros escabrosos dos nobres colegas, é o fato de que foi difícil achar nomes dispostos a participar, relatar e presidir a CPMI do caso Cachoeira, já que é risco certo colocar raposas para por ordem no galinheiro ou emporcalhados para limpar o chiqueiro. O caso é que, tirando alguns inocentes úteis já integrados ao sistema, outros inúteis que nada representam, quem manda no Congresso são mesmo os cobras criadas. E todos eles sabem que o investigado de hoje já brincou na mesma turminha, já formou na mesma quadrilha e sabe onde todo mundo escondeu os brinquedos... Moacyr Custódio, jornalista, 56 anos, é colaborador do “Jornal de Osvaldo Cruz” e editor do jornal “Cidade de Rinópolis”.

Um comentário:

  1. Editorial de autoria de Moacyr Custódio publicado nos jornas: "Jornal de Osvaldo Cruz" e "Cidade de Rinópolis".

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