segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
MEDIDAS QUE PODEM ACABAR COM A VIOLÊNCIA NO FUTEBOL
E aconteceu de novo! Como já era esperado, houve brigas e confusão antes, durante e após o clássico entre Palmeiras e Corinthians, realizado neste domingo (8), no Allianz Parque, em São Paulo. Palmeirenses brigaram com a Polícia Militar, corintianos trocaram socos entre si e bagunceiros depredaram bem públicos e cadeiras no estádio. No sábado, também houve brigas entre corinthianos e sãopaulinos que se encontraram nas ruas e no Metrô. São casos anunciados, já que não se falou outra coisa durante a semana nos meios esportivos. A briga começou lá em cima: Ministério Público, Federação Paulista de Futebol (FPF), os dois clubes e Polícia Militar passaram dias discutindo a questão dos ingressos. Ou seja: ao invés de apenas organizarem o jogo, colaboraram para acirrar os ânimos entre as torcidas desorganizadas.
Que me desculpem autoridades e dirigentes, mas todo este barulho serve para alimentar a violência. Quem vive no meio do futebol há muito tempo, sabe que há uma disputa entre as torcidas desorganizadas de Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo e até da Portuguesa: quem briga mais, quem é mais valente, mais ou menos por aí.
Nesta segunda-feira (9) todos os programas esportivos falaram da violência no futebol. Até porque também, fora do país, houve uma violenta briga em um estádio do Egito com mais de 30 mortos. Esta lamentação diária da Imprensa não sensibiliza esses briguentos. Pelo contrário, eles se orgulham disso. “É nóis, Mano”, diz o cara sentado no banco do boteco lá da comunidade, de olho na TV...
A solução para acabar com esta violência generalizada, creio que está justamente em falar menos dela. E deixar que se matem, se quiserem, tomando providências para que pessoas do bem não sejam vítimas.
Então, que se faça o seguinte: a FPF marca o jogo, com local e horário, é claro. Não importa se o Corinthians joga em Itaquera, o Palmeiras na Água Branca e o São Paulo no Morumbi, no mesmo dia. Pode até o Santos jogar no Pacaembu, a Portuguesa no Canindé e o Juventus na Moóca. Quem quiser ver seu time jogar, que vá ao jogo. E pronto. Só com isso, se verá que as torcidas desorganizadas serão abafadas pela grande massa de torcedores, esses, sim, organizados, pois tem família, trabalho e responsabilidades.
Os clubes colocam os ingressos para venda nas bilheterias do estádio e na Galeria Prestes Maia, como era feito antigamente. O estatuto do torcedor exige pelo menos cinco pontos de venda? Então, ora bolas, coloque em pontos movimentados e de fácil acesso. Nada de venda nos estádios fora do dia do jogo ou nas sedes dos clubes, pois é lá que os torcedores desocupados costumam se encontrar.
O comandante da Companhia da PM da área do estádio,escala policiais para o policiamento preventivo no interior da praça esportiva, em número de acordo com a expectativa de público. Nas ruas da cidade mantém-se o policiamento normal, como é feito nos dias úteis. Os clubes escalam seus seguranças particulares, daqueles bem grandes, tipo armário, para revista na entrada e para jogar na calçada do outro lado algum bêbado e bagunceiro.
Os editores de Esportes dos jornais e os diretores de rádio e televisão escalam seus repórteres e equipes esportivas para cobrirem e transmitirem os jogos. E os editores de Geral escalam seus repórteres para cobrirem a cidade. A pauta será a movimentação de grande número de pessoas nas ruas. E vamo pro jogo!.
Os corinthianos vão se encontrar com os palmeirenses e quebrarem o pau, dar tiros e pernadas?...os santistas vão correr atrás dos sãopaulinos para brigar e vice-versa? Problema deles! Que briguem, que xinguém uns aos outros de gambá, bambi, peixe podre, porcaiada....que se matem!
No dia seguinte, os programas esportivos falarão de futebol, quais foram os resultados, quem jogou melhor, qual a classificação e quem foi o campeão. E os programas de noticiário geral falarão das brigas que aconteceram na cidade, sem muito alarde. Houve mortes?
Então, tá: “ontem na rua Doutor Arnaldo, por volta de 16 horas, grupos de torcedores de futebol que se dirigiam ao Pacaembu se desentenderam por motivos ignorados e iniciaram uma briga generalizada. No meio da confusão, houve disparos de tiros e três pessoas foram atingidas. Socorridas à Santa Casa, duas morreram antes de serem atendidas e uma encontra-se internada em estado grave. A Polícia Militar esteve no local e deteve 15 pessoas, entre elas quatro menores, que foram levadas à 4ª. Delegacia de Polícia (Consolação). Todos são suspeitos de envolvimento na briga. O delegado de plantão abriu inquérito para identificar os autores dos disparos e encaminhou todos para o CDP de Pinheiros, onde ficarão presos até a conclusão do inquérito e à disposição da Justiça. Os menores foram encaminhados à Fundação Casa da Cidade Tiradentes.” E só...sem lamentação, identificação de facções e no outro dia a notícia será outra.
A Polícia, de forma alguma, escoltará torcidas uniformizadas, mas estará presente em locais de aglomeração de torcedores comuns nas imediações dos estádios. Esses – os torcedores comuns – não terão lugares separados nas arquibancadas, ficarão juntos e misturados. Quem brigar será colocado no chiqueirinho e liberado só após o final do jogo. As uniformizadas serão proibidas de colocarem faixas e terão que ficarem em locais dispersos nas arquibancadas.
Desta forma, gradativamente, as torcidas desorganizadas deixarão de ser notadas. Seus elementos criminosos estarão na cadeia. O pessoal do bem poderá vestir a camisa de seu time, ir ao estádio, comprar seu ingresso e assistir ao jogo. Quem não quer, não se mete em confusão e quem tem formação, educação, juízo...sabe muito bem como se livrar dos baderneiros.
Não há aqui a pretensão de ensinar ninguém a fazer o seu serviço. É apenas a observação do dia a dia do futebol de um jornalista que já esteve em todos os lados: na torcida organizada, na cobertura jornalística, na organização de jogos e nas arquibancadas. E não há nenhuma novidade: era assim que funcionava nos anos 1970/80, quando os estádios recebiam públicos bem maiores que hoje, com clássicos paulistas com 80, 100 mil pessoas. E haviam torcidas uniformizadas, com muito mais membros, mas que não eram tratadas com destaque. Faziam parte do grande público. E só.
Moacyr Custódio
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