quarta-feira, 27 de julho de 2011

EDITORIAL 34

Programas de doidos


Segundo pesquisa divulgada pela Abert (Associação Brasileira de Rádio e Televisão), em 2009, 95,7% dos domicílios brasileiros possuem aparelhos de televisão. O que quer dizer que quase toda a população brasileira tem acesso à programação de TV. Esta grande audiência faz com que as redes de televisão, que têm afiliadas em todas as regiões do Brasil, disputem acirradamente a preferência dos telespectadores por suas programações. Maior audiência significa maior faturamento comercial, por conta dos anunciantes que, é claro, querem atingir maior número de pessoas.

Numa conclusão simplista isso significa que quem tiver melhor qualidade de programação vai atingir maior número de telespectadores.

Não é, porém, o que acontece: enquanto algumas redes optam pela qualidade, outras seguem o caminho contrário: é cada vez maior o número de programas popularescos, que violentam o jornalismo, ignoram a missão precípua dos meios de comunicação que é a de levar educação e cultura, e travam uma “briga de foice” na briga pelos pontos do Ibope.

Um exemplo disso é o que acontece em São Paulo. Programas como “Cidade Alerta” (Record) e “Brasil Urgente” (Bandeirantes) fazem um “jornalismo” ordinariamente sensacionalista, explorando imagens a exaustão, sem se preocupar com os princípios do jornalismo que são regras primárias nas escolas de comunicação, mas que qualquer humilde contador de história sabe: onde, como, quando e porque?

Nesses programas, a imagens que você vê hoje, mas que foram feitas semanas antes. Estão ali só porque é mais forte do que a imagem que o outro programa tem, não importa se muitos já viram, mas que outros verão. A casos mostrados cujas imagens são de fatos do Exterior, de casos já devidamente investigados e punidos.

E os apresentadores fazem o que acham que o povo gosta: xingar suspeitos, lamentar de forma veemente a onda de violência e “meter o pau” nas autoridades, muitas vezes sem fundamento, a torto e à direito, generalizando de forma que o povo ache que aquele cara de terno e gravata é um homem corajoso, revoltado como ele, sua voz diante das injustiças, um paladino que combate o crime e diz as verdades doam a quem doer.

Puro engano: algumas vezes têm razão em sua demonstração de revolta, mas só algumas vezes. Via de regra, falam da boca para fora, tem, sim, o rabo preso, com diversos segmentos comerciais, religiosos, contratuais. O bom jornalismo que vá pro saco, pois afinal quanto mais audiência, mais comissão, mais dinheiro no bolso do corajoso “jornalista”.

Nada contra profissionais do rádio e TV fazerem bons contratos e ganhar dinheiro com seu trabalho, mas torna-se necessário alertar sobre a forma exploradora com que o cidadão vem sendo encarado: por um ponto a mais de audiência, tenta-se segurar o telespectador ou ouvinte à unha e que se dane a qualidade de informação, o bom senso e até o respeito à vítimas de ocorrências policiais e seus familiares.

Nada mais fora da realidade quando se diz que o povo gosta de “ver sangue”, “ver o circo pegar fogo” e “quanto pior melhor”. Até há uma grande parcela que, na esteira dos desmandos que políticos e governantes cometem todos os dias e que aparecem na TV como se fossem rotina, mas a maioria quer mesmo ver jornalismo de qualidade para que ele próprio forme a sua opinião.

Opinião como esta deste jornalista que assina este editorial, que não é a opinião definitiva sobre este assunto e até pode estar errada, mas é uma opinião própria e você vai ver logo ali embaixo o nome dele.

Ora, não gosta mude de canal, simples assim. Nem precisava dizer, já mudei faz muito tempo. Mas de vez em quando dou uma olhada para provocar ânsia de vômito.

Moacyr Custódio

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