quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Fabiana e Iracema se amam e moram juntas há dois anos. Agora querem se casar

Duas mulheres de Osvaldo Cruz desejam se casar e, se o juiz autorizar, pode ser o segundo casamento entre pessoas do mesmo sexo no Estado de São Paulo.

Fabiana Ferreira Batista, 24 anos, nasceu e foi criada na Capital. Veio para Osvaldo Cruz há três anos. Trabalhou na Capézio como auxiliar geral. Atualmente está desempregada, mas faz trabalhos esporádicos de computação, como formatação e instalação de programas. Tem o segundo grau completo. É solteira.

Iracema Rossi Constantino, 29 anos, nasceu em Lucélia e veio pequena para Osvaldo Cruz. Trabalha na Capézio como auxiliar de corte. Foi casada durante 12 anos. Tem dois filhos. Está separada do marido. Estudou até a 8ª. série.

Apesar de terem trabalhado na mesma empresa, não foi lá que se conheceram. Há dois anos e meio, Iracema comprou um computador e, por indicação de amigos, chamou Fabiana para instalar e formatar. O serviço ficou pronto e as duas moças descobriram muitas afinidades entre si. Ficaram amigas e, mais que isso, descobriram que estavam apaixonadas e começaram a namorar. Há dois anos moram juntas na casa de Iracema, na rua Deolinda Maria da Silva, no Conjunto Habitacional Agostinho Caliman, em Osvaldo Cruz. Com elas moram também os dois filhos e uma irmã de Iracema. Começou assim uma bonita história de amor.

No início desde mês, Iracema e Fabiana foram ao Cartório de Registro Civil de Osvaldo Cruz e disseram ao oficial Ubiratã Carlos Pires que querem se casar. Foram apresentados os documentos e publicado edital de proclamas no Jornal de Osvaldo Cruz, edição do dia 9/09. O pedido foi encaminhado ao Fórum de Osvaldo Cruz, onde aguarda decisão do juiz Edson Nakamato, corregedor da Comarca, para a conversão da união estável em casamento de conformidade com o artigo 8º. da lei 9.278/96. A decisão não havia saído até o fechamento desta edição, na quinta-feira (23).

União feliz

A reportagem do JOC esteve na casa de Iracema e Fabiana na terça-feira (20). É uma casa simples, mais muito bem cuidada. As duas estavam em casa e, como qualquer outro casal convencional educado, convidaram o repórter para entrar, ofereceram café. Sentaram de mãos dadas no sofá. Há um clima de felicidade naquela casa e um sentimento de amor quando uma fala da outra.

Segundo elas, a decisão de se casar foi tomada para que possam viver sua união, que “é para sempre” dentro da lei, como qualquer casal. “A gente já conseguiu várias coisas juntas. Queremos garantir direitos como todos os casais”, disse Iracema. “Já somos casadas, queremos legalizar, dentro da lei, quero ficar com ela para o resto da vida”, completou Fabiana.

Sobre o preconceito com esta relação fora do que é considerado normal, as duas concordam que parte de “pessoas que não tem mente aberta”. Jurema diz que não se importa com a opinião da Sociedade. “Todos têm o direito de ser felizes e nós somos felizes juntas”.

Iracema disse que não foi feliz em seu casamento. O marido bebia, havia discussão, muitos problemas. “Com a Bia encontrei a paz”, disse. Fabiana nunca teve outro relacionamento com mulheres, apenas alguns namoros em São Paulo com homens. Segundo ela, a certeza da opção sexual por outra mulher ocorreu aos 14 anos. Já para Iracema foi aos 20 anos.

As duas enfrentaram barreiras: o ex-marido de Iracema fez ameaças, o que gerou até um registro de ocorrência da Delegacia de Polícia de Osvaldo Cruz. Depois disso, se acalmou e hoje não perturba. Os filhos de Iracema adoram Fabiana, como pôde ser constatado na chegada de um deles, que frequenta a Apae (Associação de Pais e Amigos do Excepcional), no carro escolar dirigido pela irmã de Iracema, que presta serviços à entidade.
Já a família de Fabiana, pai, mãe e irmãos, também residentes em Osvaldo Cruz, foi contra no início, mas hoje o convívio é muito bom. “A família gosta de quem cuida bem da gente”, disse Fabiana.

Fabiana e Iracema afirmam que estão pensando seriamente em adotar uma criança. “A gente conversa muito sobre isso. Temos os meus filhos que moram com a gente, mas gostaríamos de criar uma criança juntas. É uma decisão muito séria, mas pensamos nisso, sim”, afirma Iracema.

As duas afirmam que vivem felizes.“Estamos sempre juntas. A Fabiana é tudo para mim”, diz Iracema. “A gente se entende muito bem, temos afinidades, nos amamos de verdade”, completa Fabiana.

Sobre o casamento, Iracema e Fabiana dizem que não estão se importando com bens que têm ou possam vir a ter pelo regime parcial de bens. “Queremos nos sentir casadas perante a lei, apenas isso”. Ambas afirmam que têm amigas que vivem na mesma situação e que também desejam se casar, mas ainda não tiveram a coragem de manifestar este desejo.

Moacyr Custódio

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